BRASIL: A NOBRE DEDICAÇÃO AO POMBO CORREIO

Dr. Karl Franz Nelz, médico cirurgião, formado na Alemanha, nasceu em Dingelstadt, no dia 02 de agosto de 1898. Imigrou para o Brasil em 1927. Escolheu Sertão Santana, distrito do Caí, para fixar sua residência, mas o clima lhe causou sérios problemas de saúde e foi quando resolveu transferir-se para Linha Imperial, zona rural de Nova Petrópolis, onde fez amizade, e também era médico da família do pastor Evers, da Linha Brasil.

Em 1933 comprou a casa de Leopoldo Lied em Gramado e aqui veio residir definitivamente, porém no mesmo ano seguiu para a Alemanha retornando no início de 1934. Com ele viajaram Dona Maria Therésia e seu filho Hermann, ainda pequeno. Estava o Dr. Nelz, como era costumeiramente chamado, no convés do navio quando avistou um voo de pombos-correios. Nesse mesmo dia Portugal e Inglaterra promoviam uma competição com seus pombos.

O médico tinha verdadeiro fascínio por essas aves. Um vento forte sobre o mar fez com que as aves mudassem de rumo, porém um deles, muito cansado, pousou no convés do navio, sendo pego por Dr. Nelz que, sem ser visto, levou-o para seu camarote. Dona Therésia tratava a ave com muito carinho, dando-lhe lentilhas e arroz secos que conseguia na cozinha, dizendo ser para joguinhos de seu filho. Ao desembarcar, cobriram o pombo-correio com uma manta. 

Em Gramado, Nelz mandou logo construir um pombal “modelo” e no mesmo ano importou pombos-correios da Bélgica, Inglaterra e Alemanha, que viajaram de Zepellin até o Rio de Janeiro, depois num avião alemão, o Junker da Cia Condor (antiga Varig), e chegaram a Porto Alegre. Começava assim o pioneirismo da colombofilia em Gramado. Com o passar dos tempos Dr. Nelz doou vários exemplares para o pastor Evers e ambos criadores conseguiram despertar em todo o Estado o interesse em adquirir pombos-correios. Essas pequenas aves, que voavam a grandes distâncias, levavam mensagens a lugares onde somente cavalos tinham acesso no meio da mata. Em muitas ocasiões o médico deixava vários pombos-correios na casa de algum colono, seu cliente, e todos os dias um era solto, levando notícias da pessoa adoecida. Esses bem treinados pombos realizavam voos de Porto Alegre, Rio de Janeiro, Santa Cruz, Santa Maria, Uruguaiana, Panambi, retornando todos juntos à Gramado, para o seu pombal. Nas viagens para todos esses lugares, eram transportados em cestas de vime fechadas, fabricadas por Antônio Accorsi.

A colombofilia se expandiu em Gramado, surgindo o pombal “Asa Forte” de Ingo Lied, com espécies adquiridas do Dr. Nelz. Na filial da Chimica Bayer em Porto Alegre, apresentou-se o irmão do Dr. Nelz, conduzindo um pombo, a qual solicitava que, por intermédio deste lhe fosse enviado um preparada farmacêutico denominado “Prontosil”, à base de sulfa (ainda não existiam antibióticos) para tratar uma paciente com infecção puerperal aguda. Atendendo o pedido, a casa Bayer amarrou com um pequeno suspensório o vidrinho do medicamento no peito da ave e esta, uma hora depois, estava em Gramado. Naquela época o trem levava de 7 a 8 horas para fazer esse percurso. 

Na Linha Brasil, uma veranista sofreu um grave mal estar proveniente do intenso calor do verão de 1941. Pastor Evers valeu-se dos serviços colombófilos a fim de recorrer aos socorros médicos do amigo na vizinha localidade. Minutos depois um pombo chegou com o remédio enviado por Dr. Nelz, resguardando a paciente de um possível ataque cardíaco. Inúmeros casos foram comentados em jornais da época, contando as grandes odisseias das pequeninas aves.

Os pombos-correios do Dr. Nelz receberam 3 medalhas de ouro por ocasião da Exposição do Centenário Farroupilha em Porto Alegre. Outras tantas nas exposições agrícolas em Santa Maria, onde o casal de aves era vendido a 30 réis. Nelz com a ajuda do Clube Colombófilo Porto-Alegrense que ele ajudou a criar, realizou uma corrida de pombos-correios do Rio de Janeiro a Gramado, sendo a maior prova à distância realizada no Brasil.

Na inauguração da Ponte Uruguaiana a Passo de Los Libres, 14 pombos de Nelz e Evers estavam presentes. Um deles levou uma mensagem para a imprensa, Diário de Notícias, dentro de uma pequena cápsula amarrada na perninha. A mensagem dizia: “Nesta data em que é lançada a pedra fundamental da Ponte Internacional, que ligará o território das duas nações amigas, transmitimos as nossas saudações calorosas por intermédio desse mensageiro alado, símbolo da paz”. A mensagem foi assinada por Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil e Augustin Justo, Presidente da República da Argentina.

Dr. Carlos Nelz mostrou a utilidade dos pombos-correios quando os meios de comunicação e locomoção eram precários.

E assim era Gramado daquelas épocas, com seus invernos rigorosos e muita neve. O verão ameno e alegre com seus veranistas. Em todas as estações do ano os pombos-correios enchiam de alegria o céu deste recanto pitoresco e de esperança o coração dos enfermos.

Legendas das fotos:

1) O pombo-correio com o vidrinho de medicamento enviado ao Dr. Nelz pela Bayer de Porto Alegre. O voo levou 1 hora até Gramado.

2) Pombos-correios de propriedade do Dr. Nelz, ao serem largados em Santa Maria em 27 de setembro de 1936. Na foto o irmão de Nelz e o Pastor Evers.

3) O pombal modelo do Dr. Nelz, onde abrigava os pombos-correios vindos de Zepellin da Bélgica, Inglaterra e Alemanha.

4) Dona Therézia Nelz, conhecida como “Frau Nelz”

Texto de Iraci Casagrande Koppe, extraído do livro “Era uma vez…”, escrito em parceria com Carlos Gilberto Drecksler, em 1994. 

Assessoria de Comunicação

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