Você já ouviu a expressão “columbofilia”? Apesar do nome um tanto estranho, a columbofilia nada mais é do que a atividade que consiste em criar e preparar pombos-correio, utilizando conhecimento e técnicas para que essas aves se tornem animais capazes de se deslocar em longas distâncias e voltar ao seu local de origem.
Em Corupá, o empresário aposentado Renato Adler é um desses praticantes. Em sua propriedade, ele possui cerca de 350 pombos-correio, em um espaço que foi batizado como “Pombal Paraíso”, em referência às belezas naturais do lugar.
Renato conta que começou a se interessar pelo assunto há 22 anos, quando um pombo-correio, por acaso, veio parar na sua casa. Depois ele descobriu que o pombo-correio era de um criador de Curitiba. Na época, Renato tinha alguns pombos comuns em casa e talvez isso tenha atraído a outra ave. De lá para cá, o envolvimento do empresário aposentado com a criação e treino de pombos-correio se tornou uma verdadeira paixão.
Dedicação e amor pelas aves
Ele dedica em média quatro horas diárias do seu tempo para fazer a limpeza do pombal e alimentar as centenas de aves que possui. Quanto aos custos com alimentação dos pombos e outros cuidados, ele diz nunca ter feito um cálculo. “Gosto de tratar deles bem, mas nunca fiz uma conta para saber qual o valor que é gasto nestes cuidados”.
A base da alimentação das aves – que varia de acordo com a idade delas – é uma mistura de sementes de girassol, milho e outros cereais. “Amendoim eles adoram”, conta Renato. “Também há um composto alimentar indicado para pombos que por aqui não se fabrica e vem de Minas Gerais, onde há um imenso números de pessoas que criam pombos-correio”, conta.
Desenvolvimento rápido
Eles crescem incrivelmente rápido e com 40 dias já estão aptos a serem treinados. Cada ninhada resulta no máximo em dois filhotes e cada pomba fêmea costuma ter três ninhadas no período de um ano. “Com sorte dá para ter seis filhotes por ano”, diz Renato. O seu pombo mais velho tem 19 anos e o tempo médio de vida dessas aves é de 25 anos.
O Pombal Paraíso tem aves vindas de Minas Gerais e até descendentes de uma espécie de pombo-correio da Inglaterra, trazida ainda dentro do ovo, por um conhecido de Renato. “O preço para adquirir um pombo no Brasil é de cerca de R$ 500, mas já me ofereceram um que era treinado por R$ 2.500. Era uma ave que já havia participado de provas e que seria utilizada para reprodução”, diz.
Campeonatos
Renato já participou de competições em diversos locais, com destaque para Foz do Iguaçu, Cascavel e Guarapuava, no Paraná, e já conquistou diversos diplomas e troféus. No Brasil, os campeonatos são compostos por provas que consistem em levar o pombo a um local, soltá-lo e marcar o tempo e a distância que a ave leva para voltar ao seu local de origem.
Adler explica que o treinamento da ave consiste em colocá-la numa caixa, levar para outro local, numa distância de cerca de cinco quilômetros do pombal, e soltá-la. “Seguindo o seu próprio instinto, ele volta”, conta Adler. Todos eles também são chipados, o que permite saber quem é o tutor e o endereço do pombo-correio.
Os pombos-correios funcionam como uma espécie de bússola e são treinados para voltar ao seu pombal depois de terem percorrido uma grande distância. Mas, diferente do que muita gente pensa, o pombo-correio não leva uma mensagem espontaneamente a um determinado destino. Ele precisa ser transportado de seu local de origem até outro ponto, de onde ele saberá como retornar à sua casa. É um mecanismo natural que ele tem. Se o objetivo é levar uma mensagem, ela deve ser colocada em um tubo numa das patas da ave.
Agilidade e resistência
Um pombo-correio pode voar uma distância de mil quilômetros em linha reta e depois voltar para o local de onde saiu. Além da alta resistência das aves, elas também são extremamente ágeis. Com vento a favor, conseguem voar a mais de cem quilômetros por hora. Em geral, a columbofilia usa cruzamentos de diferentes subespécies de pombos que são caracterizados por sua rapidez ao voar, sua resistência à fadiga e seu sentido de orientação.
Antigos mensageiros
No passado, quando não existiam meios tecnológicos para facilitar a transmissão de dados, a columbofilia era muito importante. Os pombos-correios permitiam que as informações viajassem centenas de quilômetros rapidamente. A partir do século XIX, o avanço da tecnologia tornou a columbofilia menos popular, mas ela permaneceu como um esporte e uma tradição.
A columbofilia foi fundamental, por exemplo, nas duas grandes guerras mundiais. Complementando o uso do telégrafo e do correio, as aves conseguiam atravessar as linhas inimigas e se comunicar com as tropas, embora muitas vezes fossem atacadas para impedí-las de cumprir sua missão. Um dos pombos-correio mais famosos da história foi Cher Ami, que, apesar de perder um olho e uma pata, conseguiu transmitir uma mensagem que contribuiu para salvar membros de um batalhão americano.