Fonte: Jornal O Povo – Publicado em 02/04/2021
Estes pássaros se adaptaram bem do ambiente urbano, fazem parte do cotidiano e da paisagem da cidade, mas nem sempre estiveram aqui
É difícil caminhar por qualquer centro urbano do Brasil sem avistar um exemplar que seja, pendurado num teto, bicando o chão das praças ou levantando voo, do Columba livia. Ou seja, um pombo. Estas aves, de penugem cinzenta com manchas pretas e brancas e uma leve pincelada verde-arroxeada no pescoço, estão perfeitamente adaptadas ao ambiente urbano e fizeram das nossas cidades seus lares. Mas nem sempre viveram aqui no Brasil. Nem no continente americano.
Primeiro, é importante destacar: os pombos fazem parte de uma grande família chamada Columbidae, com mais de 300 espécies por todo o mundo. Aqui, tratamos especificamente do Columba livia domestica, nome científico desta ave que vemos comumente em nossas cidades. O Columba livia também é conhecido como pombo comum e, muitas vezes, como pombo doméstico. E ele não é um pássaro nativo das Américas.
O animal foi trazido para diferentes partes do continente americano ao longo do processo de colonização pelos europeus. Na América do Norte, por exemplo, foram introduzidos no século XVII nas então Treze Colônias britânicas, que viriam a se transformar nos Estados Unidos da América.
No Brasil, este tipo de pombo foi introduzido pelos portugueses, conforme o livro Ornitologia Brasileira, do ornitólogo alemão Helmut Sick. A obra, considerada a Bíblia da ornitologia no País, realizou um extenso levantamento das aves no Brasil desde o século XVI até o final do século passado.
Estes pombos comuns aqui são descendentes do pombo-bravo, ou pombos-das-rochas, o Columba livia atlantis. A ave é originária da Europa, Oriente Médio e norte da África, isto é, da região do Mediterrâneo, conhecida por ficar nos paredões de pedra à beira-mar. Conforme o livro, a sua introdução nas terras brasileiras ocorreu já no século XVI, a despeito de versões que circulam de que foram trazidos apenas no século XIX com a vinda da família real portuguesa, que teria querido “enfeitar” as cidades brasileiras com estas aves para dar-lhes um ar mais europeu.
Os pombos, quando foram trazidos para cá no início da colonização, viviam apenas em gaiolas, eram aves domésticas para um fim prático: alimentação. Aqui e na América do Norte, os pombos constavam no cardápio dos colonizadores, assim como as galinhas-d’angola (Numida meleagris), conhecidas popularmente no Ceará como capote. Foram os portugueses, também, que trouxeram outro pássaro muito comum nos céus do Brasil, o pardal (Passer domesticus).
Em dado momento, tanto pombos como pardais lograram escapar do cativeiro e tiveram sucesso em se adaptar ao ambiente local, sem, contudo, se afastar das regiões habitadas pela espécie humana. As mesmas regiões onde proliferaram e onde os vemos até hoje. Sua população numerosa trouxe outra questão, desta vez, sanitária.
É que os pombos de rua, muitas vezes, são chamados de “praga urbana”. Como não têm predadores naturais nas cidades, reproduzem sem obstáculos. Através de suas fezes, doenças como a criptococose, histoplasmose e dermatites podem ser transmitidas. Contudo, o animal, em si, não é doente nem deve ser maltratado – ele é protegido, inclusive, pela Lei de Crimes Ambientais n° 9.605/98.
A infecção pelas fezes não é uma exclusividade dos pombos. No entanto, por sua população numerosa, torna-se mais representativa. “Sendo bem criados, podem até ser consumidos sem problemas”, esclarece o professor Luís Gonzaga Sales, do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Ceará (Uece). “O caso é que nas ruas bebem e comem que não devem e se contaminam de certas enfermidades que podem ser transmitidas ao homem”.
Como em seu organismo podem ficar alojados os agentes causadores dessas enfermidades, são recomendadas algumas medidas de prevenção para lidar com estas aves selvagens, como instalar telas em áreas com possibilidade de aglomeração de aves (sótão, vãos de ar-condicionado, etc) e manter a limpeza das áreas com fezes, que devem ser umedecidas e removidas por uma pessoa utilizando máscaras ou pano úmido na boca e nariz.
Por que não vemos ninhos de pombos nem pombos filhotes?
A despeito de seu comportamento cosmopolita, perto dos humanos e no meio das cidades, os pombos são muito discretos quando se trata de reprodução. Neste aspecto, preservam o mesmo costume de seus ancestrais mediterrâneos, o pombo-das-rochas: preferem pôr os ovos em rochedos, sítios pedregosos, de difícil acesso.
Hoje, após trocar os paredões à beira-mar pela selva de pedra das cidades, estas aves encontraram nos edifícios citadinos uma alternativa para nidificar. Diferente de muitos pássaros, que buscam aves para o lar, os pombos costumam instalar os ninhos em torres altas, em espaços com menor movimento, por isso preferem os topos das igrejas, prédios abandonados e estruturas internas das pontes.
Ainda assim, se você parar para mirar o topo de uma igreja em busca de um bebê pombo, não deve encontrá-lo. Um filhote de pombo leva cerca de 40 dias entre o nascimento e a criação de penas, quase o dobro do tempo que outros pássaros. Durante este período, ficam recolhidos, protegidos e são alimentados pelos pais, que regurgitam os alimentos da própria garganta para a cria comer.
Quando finalmente deixam o ninho de pedra, os pombos bebês já estão cobertos de penugem e relativamente grandes. Embora sejam pouco menores que um pombo adulto, é difícil para um leigo distinguí-los. Principalmente se estão no ar. Assim, a infância dos pombos permanece um mistério para muitos.
Columbofilia, a criação doméstica de pombos – ou de atletas do ar
No céu do Brasil também voam pombos não em busca de comida ou de um lugarejo para se aninhar, mas em longas competições de voo. São chamados por seus criadores de “atletas do ar”. E são fruto de uma prática antiga, difundida por todo o mundo: a columbofilia.
O nome, derivado da raiz Columbidae que dá nome à família em que se encaixam os pombos, é usado para designar a atividade de criação e treinamento dos pombos-correio, utilizados, antigamente, no transporte de mensagens com fins militares. Nos Estados Unidos havia, inclusive, o US Army Pigeon Service, uma unidade militar de pombos-correio que atuou nas duas Grandes Guerras. Outros países como França e Reino Unido tinham unidades militares semelhantes.
A atuação destas aves ficou imortalizada em inúmeros filmes sobre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, e ganhou até versões mais simpáticas como o Valiant, animação de 2005 sobre um corajoso pombo que precisa escapar dos nazistas, resgatar um amigo e entregar uma importante mensagem aos Aliados. Mas seu uso militar vem de muito antes. Um conflito-chave para o desenrolar da Primeira Guerra Mundial, a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) teve largo uso de pombos-correio.
No Brasil, a prática da columbofilia também teve início com forte aspecto militar. Essas aves treinadas foram introduzidas na década de 1860, período da Guerra do Paraguai, e vieram importadas da Alemanha. Chegaram por estados como Rio Grande do Sul e Paraná, justamente nas proximidades do conflito. Sua importância era tal que a criação desses pombos-correio era regulamentada pelo próprio Ministério da Guerra.
“Nossos pombos são considerados pombos de atleta. Ele é vacinado, tratado como atleta, tem comida balanceada, vacina, muito bem cuidado, e são feitas competições”, explica Cláudio Boriola, presidente da Federação Columbófila Brasileira (FCB). A entidade, fundada em 1993, reúne as federações e clubes estaduais e ela mesma é filiada à Federação Columbófila Internacional, sediada na Bélgica, país referência da columbofilia.
“Esse hobby na Europa é muito prestigiado e aqui no Brasil. Hoje temos cerca de 70 clubes oficiais, cada clube com cerca de 50 associados. O clube recebe uma anilha internacional controlada pela Federação Brasileira. Quando o clube compra anilha e repassa para seu criador, é feito um certificado de propriedade que garante que aquele pombo é oficial de corrida, um atleta do ar”, detalha Boriola.
A anilha é posta no animal logo nos sete primeiros dias de nascimento. Quando ele cria penas, começam os treinamentos. Atualmente, existem cerca de 250 mil pombos atletas no Brasil, com a identificação oficial da FCB. São 2.500 columbófilos registrados na federação, mas a criação de cada um varia. Alguns têm entre 30 e 50 aves no pombal; Outros, mais de mil. Ali, recebem alimentação, treinamento, medicação, visitas veterinárias.
As competições costumam medir a velocidade e a resistência destes pombos-correio. Pombos voam, em média, a 90 km/h. Alguns mais, outros menos. O maior diferencial, portanto, é a precisão e a velocidade atingidas. Nas competições, as aves são marcadas com chips e liberadas, todas de uma vez, em terrenos abertos. Elas regressam para seus pombais, onde foram criadas, e é feita uma leitura do chip para avaliar seu desempenho.
Mas por que pombos? Estas aves possuem um forte mecanismo natural de fidelidade. Como os pombos-correio têm moradia fixa, com alimentação e proteção, sempre voltam para casa. Ao contrário do que muitos pensam, os pombos-correio não levam simplesmente uma mensagem de um ponto a outro, encontrando lugares desconhecidos.
Eles são transportados a um ponto, onde são soltos, e então voltam para casa. Portanto, eram soltos, por exemplo, em um campo de batalha nas guerras, e logo achavam o caminho de casa – os quartéis-generais onde foram criados – com importantes mensagens a tiracolo.
A prática não é nova. Os pombos foram domesticados na Ásia há cerca de 5 mil anos. Os fenícios os utilizavam, por volta de 1000 a.C., como bússolas – conhecidos por suas navegações, quando se sentiam perdidos, os fenícios soltavam pombos do ponto do oceano onde estavam, e as aves faziam o caminho de volta para casa na Fenícia, região onde hoje estão Síria, Líbano e Israel. Aí, para os navegadores fenícios, era só seguir as aves de volta.
Aliás, a cidade de Fortaleza, embora tenha poucos columbófilos, tem um clube ativo e homologado na FCB. Mas sua importância para a columbofilia é outra. Segundo o livro Ornitologia Brasil, aqui foi batido o recorde de distância percorrida por um pombo. Enquanto pombos, normalmente, percorrem 1 a 1,2 mil quilômetros, em 1986 um deles saiu de Guernsey, uma ilha britânica no Canal da Mancha, quase na costa francesa, percorreu mais de 9 mil quilômetros e pousou na capital do Ceará.
Hoje, os melhores pombos dão origem a verdadeiras linhagens de pedigree. A prática do pedigree é feita com o cruzamento das aves com as melhores atribuições, levando em conta seus pais e avós. Com isso, há inclusive um mercado de importações e exportações destes animais. Em novembro de 2020, um milionário chinês arrematou um pombo-correio belga de boa linhagem por 1,6 milhão de euros, mais de R$ 10 milhões.
Aliás, o negócio para o dono do pombal foi ainda melhor. Com idade avançada e sem tempo, o proprietário pôs todos os 445 pombos-correios criados com esmero para venda. Ao fim, arrecadou 6 milhões de euros, cerca de R$ 37 milhões. No Brasil, para importar um pombo destes, é necessário autorização da federação, que regula a columbofilia no País.
A FCB, aliás, busca uma regulação ainda maior – quer reconhecimento da prática em nível federal. A organização apresentou um requerimento na Câmara dos Deputados para a columbofilia obter o reconhecimento como desporto. A oficialidade da prática também permitiria, por exemplo, a atuação da FCB perante órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou o Ministério da Agricultura, relacionados à criação ou importação e exportação de animais, argumenta o projeto.
“Além de ser um hobby, ele é um desporto e uma cultura. Não são todos que criam o pombo-correio, mas aqueles que criam querem ser reconhecidos como criadores oficiais. O jogador de vôlei, de futebol, é reconhecido, por que o columbófilo não é?”, questiona Cláudio Boriola.
Fonte: Jornal O Povo
Parabéns a atual diretoria por estar mostrando na mídia brasileira o nosso desporto. Ser columbófilo é uma verdadeira paixão.
Olá Eduardo, obrigado pela visita e feedback.
Conte sempre com a gente!
Equipe FCB pensando sempre em você!
Passou da hora da FCB começar a certificar os pombais. Tem ccolumbófilos na região de BH e região metropolitina, Divinópolis, Aracajú, Mairinque, entre outros que tratam os pombos como lixo e cheios de doenças,além de contaminar outros pombos nos caminhões. isso é uma vergonha. Excelente iniciativa e atitude da federação
Olá Almeida, obrigado pela visita e feedback. A Diretoria da FCB está trabalhando incansavelmente para sanar todos os problemas mencionados no seu post. Hoje a Federação conta com o apoio da UNICENTRO de Guarapuava-PR na pessoa do médico veterinário Phd. Dr. Adriano Carrasco. A campanha de certificação dos pombais iniciou no mês de março passado.
Conte sempre com a gente!
Equipe FCB pensando sempre em você!
Pombos E um sinal de existe uma caminhada e uma chegada no destino certo.
Criacao de Deus.
E tudo de bom.
Olá Marco, obrigado pela visita e feedback.
Conte sempre com a gente!
Equipe FCB pensando sempre em você!
Parabéns ao presidente Claudio Boriola.
Sempre trabalhando pela Columbofilia.
A caravana passa e os cães ladram.
Olá David, obrigado pela visita e feedback.
Conte sempre com a gente!
Equipe FCB pensando sempre em você!